IGREJA ROMANA PULA FORA DO PT?


Uma revista de circulação nacional comenta essa semana o que já era evidente: a Igreja Romana, por sua hierarquia e suas bases, vem se afastando do Partido dos Trabalhadores, e, ou optando pelo PV, PSOL e PSTU, ou, na vertente mais “religiosa”, voltando para as sacristias. A preocupação não é com a despartidarização da Igreja, mas a sua despolitização. O Plano Nacional de Direitos Humanos – PNDH, com sua defesa do aborto e do homossexualismo, ou pela retirada de símbolos religiosos de espaços públicos, foi apenas a “gota d’água”, precedido pelo “mensalão”, pelas alianças com os setores mais reacionários do mundo político, o “realismo” em reação ao neoliberalismo capitalista, foram precedentes,



Os setores católicos romanos progressistas acusam, com razão, o PT de não ter sido o parceiro que se esperava na construção de um país mais soberano, mais democrático e mais justo. Quando Lula troca Frei Beto por Crivella como conselheiro religioso, algo tinha mudado profundamente, e não tinha sido do lado da Igreja...



Todos nós, protestantes, além das discordâncias teológicas, apontamos o dedo para a Igreja Romana em episódios como as Cruzadas, a Inquisição, e a defesas do Absolutismo, e fomos discriminados e perseguidos no Brasil durante a vigência do regime do Padroado e da Religião Oficial com a Constituição Imperial de 1824. Mas, não podemos negar a contribuição do pensamento social pontifício, com encíclicas como Non Abbiamo Bisogno (1931) contra o Fascismo, Mit Brennender Sorge (1937) contra o Nazismo, Divino Redemptoris (1937) contra a Comunismo, ou com a condenação às injustiças sociais com as encíclicas Rerum Novarum (1891), Quadragésimo Anno (1931), ou Mater et Magistra (1961) e Populorum Progressio (1966).



A CNBB saudou o golpe de 1964, mas, posteriormente, se tornou um dos pilares de resistência e de defesa da redemocratização. A Teologia da Libertação forneceu quadros dirigentes ao PT, a CUT ou ao MST, por ter despertado a visão social, sem o equilíbrio de uma espiritualidade que incluísse a transcendência, a doutrina e a ética individual. Na formação do Partido dos Trabalhadores, ao lado do novo sindicalismo da intelectualidade socialista não-dogmática, setores da Igreja Romana desempenharam importante papel de formulação e de mobilização.



Acontece que o tal “governo do PT” foi como a viúva Porcina “aquela que foi sem nunca ter sido”. Foi um governo de Lula como titular, com uma ampla e eclética “base aliada”, onde o PT foi apenas um ator, e coadjuvante, tendo sido forçado a abandonar o ideário construído por suas bases por 20 anos, sendo-lhe imposto “de goela a baixo” a chamada “Carta ao Povo Brasileiro”, que é uma ruptura formal com esse ideário (que tinha no horizonte a construção de um socialismo democrático peculiar) e uma transformação em um mero “partido reformista” da ordem vigente, com todos os preços e acordos.



Intelectuais e religiosos progressistas, não só católicos romanos, vêm pulando fora desse barco há muito tempo. O pior é que, com a cooptação dos movimentos sociais, há um silêncio em termos de massa crítica e de oposição, menos aquela dos conservadores capitalista subalternos mais empedernidos, capitaneado pela paulisteia perfumada, enfim, a do retrocesso. Os setores mais à esquerda do PT estão divididos e desqualificados ou ignorados pela imprensa-empresa, e a irmã Marina Silva, com toda a sua biografia, ética e ecologia, não conseguiu ainda romper o cordão umbilical afetivo com o PT atual (que não é o que ela no passado militou), e sinalizar uma ruptura, uma mudança de rumos mais profundos em busca de um Projeto Nacional, que resgate o sonho de justiça social dos religiosos, sejam católicos romanos, sejam os de outras religiões, inclusive de nós evangélicos.



Mas, o período eleitoral está apenas começando, tem a Copa do Mundo no meio, e as nossas orações de vez em quando. Vamos em frente!



Olinda (PE), 20 de abril de 2010,

Anno Domini.

+Dom Robinson Cavalcanti, ose

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