25 de Janeiro de 2012 - Conversão de São Paulo Apóstolo


Paulo foi derrubado para ser cegado;
foi cegado para ser mudado;
foi mudado para ser enviado;
foi enviado para que a verdade aparecesse”
(Santo Agostinho)
Saulo era o seu nome até o momento de sua conversão ao cristianismo. Sendo filho de pai judeu, Paulo recebeu rigorosa formação religiosa, tornando-se desde a mocidade num ferrenho fariseu (Atos 26,5) perseguidor dos cristãos, que “devastava a Igreja: entrando pelas casas, arrancava homens e mulheres e metia-os na prisão” (Atos 8,3). Ainda como jovem, Paulo presenciou e aprovou o apedrejamento de Santo Estevão (Atos 8, 1).
Como entender, então, a conversão de um homem de coração tão duro, tão cheio de culpa e tão grande perseguidor dos cristãos e contestador da fé em Cristo? Mistério insondável da misericórdia e amor de Deus que em não poucas vezes converteu pecadores, transformando-os em arautos do Evangelho e exemplos de santidade. Deus é verdadeiramente surpreendente e, de fato, como lemos na Bíblia, seus pensamentos e caminhos não são nem os nossos nem como os nossos. Saulo, o bárbaro perseguidor da Igreja, se transformou em Paulo, o “Apóstolo” por excelência, o maior pregador do Evangelho aos pagãos, o chamado “doutor das nações”, que, juntamente com Pedro, compõe as duas principais colunas da Igreja Católica.
É o próprio Paulo quem explica, na doutrina que expõe em suas Epístolas, que sua conversão se deu pelo poder da graça de Deus, somente ela capaz de operar o milagre nele manifestado e outros iguais ou maiores do que este.
Conforme se pode ler especialmente em Atos 22, 3-16, a conversão de Paulo foi realmente milagrosa:
porque Jesus mesmo foi quem a fez: “Saulo, Saulo, por que me persegues?... Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem persegues... Levanta-te. Vai a Damasco. Lá te será dito tudo o que te importa fazer”.
pela maneira como se deu a conversão: Enquanto estava a caminho de Damasco, ao meio dia, uma grande luz vinda do céu envolveu Paulo tão fortemente que o derrubou do cavalo, deixando-o cego.
pelo comportamento do próprio convertido. Paulo, tendo caído por terra e ouvido aquela voz de Cristo, só pôde exclamar: “Quem és Tu, senhor?... Que devo fazer, Senhor?” Deixar-se seduzir pelo Senhor é também uma graça, da qual Paulo foi acolhedor.
Como se lê no profeta: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir por ti; tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste” (Jeremias 20,7). A conversão é sempre uma comunicação primeira de Deus, uma iniciativa do Senhor que não depende de nossos esforços, nem podemos retê-la por mais tempo. É puro dom de Deus, que dá quando e como quer. É claro que é possível rejeitá-la e dizer não, pois Deus respeita a nossa liberdade. Eis o que diz o Espírito de Deus: “Quanto a mim, repreendo e educo todos os que amo. Recobra, pois, o fervor e converte-te! Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”. Abrir a porta é a iniciativa que cabe a nós tomar, na liberdade, como uma resposta consciente e pessoal.
Essa experiência forte de Deus definiu a vida de tantos santos e santas. Basta lembrar a conversão de Santo Agostinho, depois de um processo duro e longo de lutas interiores e reflexões intelectuais. Até que um dia pode exclamar: “Tarde te amei! Beleza sempre nova e sempre antiga! Estavas comigo e eu não estava contigo. Chamaste, gritaste, feriste a minha surdez. Brilhaste com fulgores, varreste minha cegueira, exalaste teu perfume, e eu respirei e fui a teu encalço. Saboreei-te: tenho fome e sede. Tocaste-me: inflamei-me pela paz que me deste. Minha vida se encherá de ti, ó Vida!”
Como não se lembrar também da conversão de São Francisco operada pelo Senhor quando da experiência do abraço ao leproso e da escuta da voz do Crucificado, na Capela de São Damião, que lhe disse: “Francisco, restaura a minha Igreja, que como vês está em ruínas”. Em seu Testamento, Francisco confessou que foi a partir dessa experiência do encontro com Cristo e o pobre que a sua vida mudou: “Desde então tudo o que antes era para mim amargo tornou-se doce e, não demorou muito, eu deixei as seduções do mundo para somente seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Não terá sido diferente para nós a experiência da conversão, da comunicação de Deus em nossa vida, na nossa história pessoal. O Senhor está sempre muito perto de nós, à nossa porta e quer entrar. Importa, como nos diz o profeta Isaías: “buscar o Senhor, enquanto se deixa encontrar; invocá-lo enquanto está perto” (Is 55,6). Se assim agirmos, então, tudo pode acontecer de novo, e tudo se renovar: “Se alguém me ama e guarda minha palavra, o Pai o amará e viremos e nele faremos morada (a Trindade Santa)” (Jo 14,23). Amém! Amém!

Dom Frei Caetano Ferrari, OFM.
Bispo Coadjutor.


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